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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Idiota: ser ou não ser!


Como me tornei um idiotaPor Carlos Ferraz Batista
Somos seres precários e constituídos pelo conflito. Na tessitura da vida, temos que nos haver com os elementos internos e externos. Esses últimos são discursos advindos da cultura, provenientes da mídia e até mesmo do Estado. Contexto caracterizado por oneroso preço, imposto pela cultura ao sujeito.
Ideias e valores são constituídos e acomodados pelos sujeitos, que tem que traduzir e integrar, um discurso muitas vezes de cunho idiotizante.
Em um mundo globalizado e padronizado, as idéias e valores possuem excessiva influência dos discursos sociais, impondo modos de agir e de ser.
Aproveito para externar o mal estar gerado pelos imperativos culturais. Em outros termos, vivemos norteados por um modelo imposto pela cultura. Algumas mulheres sofrem sobremaneira com a ditadura da beleza, abdicando de seus potenciais, os quais são impedidos de irem para a cultura. A mulher contemporânea apresenta dupla face, sendo a primeira, mulher competente e independente. Em contrapartida, no reverso, desejam um homem forte, protetor e que a eleja como objeto de desejo. O paradoxo dessa situação é que esses sujeitos não são tão poderosos como se fazem parecer. Cabe ressaltar que, para algumas mulheres, a ilusão do poder masculino é valorizada, sendo um traço que desperta a fantasia feminina.
Do lado dos homens, esses estão em situação impossível, devido ao fato de ter que manter o engodo de homem poderoso. Para tanto, os pobres diabos se vêem na obrigação de viver a vida de modo a conquistar objetos, que sustentam sua posição de poder, como mulheres, carros, tudo que está relacionado ao dinheiro e lhe dê status. Nada mais ilusório e ridículo.
Desde a antiguidade o homem tenta suprir sua insuficiência por conquistas: terras, insígnias do exército… O que diferencia o homem de hoje é a horizontalidade nas relações. A palavra do homem desvalorizou-se, não tem mais o peso social, que tinha no sistema patriarcal. Hoje o homem já não sabe mais se é correto abrir aporta do carro para uma mulher. O referido gesto pode ter inúmeras significações.
O mundo é feminino, as relações mudaram e demanda que homens e mulheres sejam criativos e inventivos, para que possam lidar com este novo mundo.
Temos a impressão que no atual momento, histórico e econômico, há o favorecimento da constituição de valores e idéias, norteados pela frivolidade e superficialidade. Deste modo, o que poderia ser um acréscimo ao sujeito, no embate com a cultura, gera ou produz um ser medíocre, caracterizado pela uniformização e pela idiotice.
Ao abdicarmos da apropriação de um discurso próprio, mesmo que influenciado pela cultura, abrimos mão da possibilidade de fazer algo diferente, de sermos outros. Configura-se o desafio ao sujeito em preservar e expressar o traço que diferencia e produz mudanças. Diante do exposto, perguntamos: Ser ou não ser idiota, eis a questão.
Referência:
PAGE, M. (1975) Como me tornei estúpido. Rio de Janeiro; Rocco, 2005.
*Psicólogo, psicanalista e autor do livro ‘Crime e castigo e a maioridade penal’. Blog: Sujeito e Cultura

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