
Dançarinas da Associação de Balé e Artes para Cegos Fernanda Bianchini durante aula. Foto: Danilo Verpa/Folhapress

Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
“A gente ficava em dúvida se aquelas meninas não estavam enganando a gente. Elas ficavam nos lugares certos, sem se bater, impressionante”, diz Marilise Pilon, mãe de duas alunas, de dez e 14 anos.
“Minhas duas filhas fizeram balé por nove anos. Os conceitos visual e corporal precisam ser muito bem feitos e a apresentação da companhia de dança foi impecável”, diz.
Na primeira apresentação, alguns estudantes foram convidados a se juntar às bailarinas para aprender posições básicas de balé. De olhos vendados, eles vivenciaram a inversão dos tradicionais papéis, pois foram as jovens cegas que ajudaram os alunos.

Bailarinas fazem aulas gratuitas na associação que existe há 17 anos na Vila Mariana, em São Paulo. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Segundo Fernanda Bianchini, bailarina e fisioterapeuta fundadora e coordenadora do balé, vendar os olhos é fundamental para entender o universo de quem não enxerga.
“Para um dos passos, expliquei que era como pular para dentro e fora de um balde. Uma das meninas levantou a mão e me perguntou ‘tia, o que é um balde? Eu nunca vi um balde’. Foi quando percebi que tinha que vendar meus olhos para entender o mundo dos cegos.”
Cerca de 500 alunos e 200 pais assistiram à apresentação na quadra da escola. Depois, foram convidados para o passeio “no escuro”. Nem todos os pais aceitaram, uns ficaram com medo e outros preferiram filmar e fotografar a dinâmica.

Associação existe há 17 anos e dá aulas de balé gratuitas para crianças e jovens com deficiência visual. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Cláudia Carneiro tem três filhos matriculados do colégio e topou participar do passeio ao lado da filha de 12 anos. “Foi maravilhoso e assustador, a gente percebe que não é nada, perde noção de espaço, de tudo. Ela [a filha] conhece tão bem a escola e a quadra, mas ali descobriu que não conhece.”
“Foi uma coisa que mexeu com todo mundo que tava ali. Sai de lá revendo reclamações diárias. Não dá mais pra reclamar do café morno ou da louça que não foi lavada perfeitamente”, afirma Marilise.

As bailarinas Verônica Batista, Geisa Pereira e Cintia Domingues durante aula de balé para cegas. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
INCLUSÃO
A apresentação do balé é parte do projeto “O Essencial é Invisível aos Olhos”, promovido este ano pelo colégio. Leda de Morais, orientadora pedagógica da escola, diz que para o Doze de Outubro a inclusão sempre foi um tema importante. “A inclusão não é um favor, é um direito. Antes de virar lei, temos que fazer nossa parte.”
“Aproveitamos para trabalhar sentidos que as pessoas às vezes esquecem, que enxergar não é só ver com os olhos. Fizemos o projeto para entender a necessidade do outro. A verdadeira inclusão começa pela preparação de toda a comunidade de alunos para receber bem e integrar essas pessoas”, diz.
Para Cláudia, as ações sociais promovidas pela escola são fundamentais para a educação dos seus filhos. “Tem que se aflorar a vontade deles de fazer esse tipo de trabalho.”
“Meu sonho é que cada patrocinador adote uma bailarina e que cada uma delas tenha uma vida melhor”, diz Fernanda. Mais informações sobre a associação no site.
Fonte: Folha de São Paulo
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