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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os desafios de Incluir sem excluir

Por Roberta Vieira de Vargas*
RESUMO
O presente trabalho decorre de reflexões feitas sobre a inclusão de alunos com NEE (Necessidades Educacionais Especiais). O objetivo foi analisar a situação atual dos NEEs nas instituições de ensino, as reais dificuldades, o papel da família e a receptividade por parte dos professores. A exploração deste assunto sugeriu que tanto a escola, quanto a família deparam-se com problemas que iniciam na inserção do aluno com NEE, a receptividade por parte dos colegas e professor e a adequação do currículo que atenda as expectativas tanto do NEE quanto da escola a fim de que possa destacar as potencialidades no lugar das dificuldades. Isto se dará através de um conjunto de fatores que venham a contribuir com o processo de inclusão de todos e não resulte para a exclusão dos demais alunos que participam do processo.
INTRODUÇÃO
Aluno cadeirante em sala de aulaNo presente artigo, aborda-se o processo de inclusão de alunos com NEE (Necessidades Educativas Especiais) orgânicos e permanentes, nas escolas regulares e o desafio de da mesma forma não reverter-se num processo de exclusão, partindo do pressuposto de que o modo como o NEE é inserido nas turmas de classes regulares implica no resultado desta aprendizagem.
Considerando o fato de este ser recebido como um dependente diferente ou incapaz visto pelos demais como alguém que precisa ser atendido de forma especial, é preciso que haja um cuidado para que os outros envolvidos no processo sejam cooperativos e entendam seu papel social.
A possibilidade da inclusão é a oportunidade de mudar atitudes, pois é só quando nos deparamos com nossos próprios limites que vemos o quanto é importante buscar alternativas para configurar de forma adequada uma educação inclusiva de qualidade.
Só ocorrerá uma educação inclusiva verdadeiramente comprometida global na estrutura e funcionamento das instituições inclusivas, porque denominar-se inclusiva não basta para ser de fato.
Somos diferentes, pensamos diferentes, agimos de modo diferente, sentimos diferente.
E tudo isso porque vivemos e aprendemos de forma diferente, cada um tem uma visão de mundo própria e com um significado que é fruto de suas associações.
Então, o que ‘serve’ para alguns, não significa que deve servir para todos.
Muitos fatores estão envolvidos nessa mudança, entre eles a afetividade, o desenvolvimento das potencialidades e a transformação de alguns conceitos.
Para fins de entendimento serão usados os termos NEE (Necessidades Educativas Especiais).
1. ASPECTOS LEGAIS DA INCLUSÃO
1.1. O que diz a Constituição Federal?
A nossa Constituição Federal elegeu como fundamentos da República a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. II e III), e como um dos seus objetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, inc. IV).
1.2. A LDBEN, a Educação Especial e o Atendimento Educacional Especializado.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN (art. 58 e seguintes), o atendimento educacional especializado será feito em classes, escolas, ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular (art. 59, ß 2º).
1.3. A LDBEN e as inovações trazidas pelo Decreto 3.956/2001 (Convenção da Guatemala)
Posterior a LDBEN, surgiu uma nova legislação, que como toda lei nova, revoga as disposições anteriores que lhes são contrárias ou complementa eventuais omissões. Trata-se da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação, contra a Pessoa Portadora de Deficiência, celebrada na Guatemala.
A Convenção da Guatemala deixa clara a impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência, definindo a discriminação como toda
diferenciação, exclusão ou restrição, baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais (art. 1º, nº 2, ‘’a’’).
1.4. A declaração de Salamanca
Princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola.
2. O PAPEL DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A primeira reação de um pai ao receber a notícia de que seu filho é uma criança especial é: “Por que comigo?”, não diferente do professor; ‘O que faço agora?’’
Para a família que recebeu a missão de educar e proteger esse sujeito com NEE, segundo STOBAÜS (2004)² é preciso que seja mostrado o lado sadio.
A escola e a família sabem que agora seu papel é fundamental e que a parceria é muito importante. O apoio aos pais e professores por outros profissionais é indispensável, mas há um fator ainda mais importante: a afetividade.
O aluno com NEE necessita ser acima de tudo respeitado, aceito e ter acesso aos mesmos materiais que os demais sem nunca deixar de ser recebido tanto pelos colegas, professores e funcionários de maneira afetiva, sem deixar de colocá-lo a par das regras de funcionamento da instituição. Ser um portador de NEE, não significa ter privilégios e para que ele sinta-se realmente incluído ele deve perceber que tem as mesmas responsabilidades que os demais colegas.
Já o papel do professor não é de ser um facilitador, mas um mediador da aprendizagem, apontar caminhos e fomentar o espírito investigativo em seus alunos, a fim de que este busque por seus próprios meios e tentativas solucionar seus problemas e acreditar que tem condições dentro de suas potencialidades de participar efetivamente do funcionamento da escola e do processo de construção do conhecimento.
Um número significativo de alunos com dificuldades de aprendizagem apresentam também, dificuldades emocionais, sociais e de conduta. Por esta razão devem ser considerados aspectos emocionais, afetivos e relações sociais. A inquietação e a distração são apenas algumas manifestações observadas pelos alunos de diferentes faixas etárias, como uma maneira de chamar atenção para si, sendo que nas crianças com NEE como já se caracterizam por necessitarem de atenção diferenciada e por estarem mais vulneráveis à consideração negativa dos colegas, desempenham um papel importante nas dificuldades gerais de aprendizagem e no rendimento.
Nesse processo em que o objetivo é construir uma aprendizagem efetiva entre educandos com dificuldades de aprendizagem e aqueles que não apresentam é importante levar em conta a influência da família e da escola.
Concordamos com ³COLL (2004), uma vez desencadeado o processo, devemos pensar que se inicia um círculo sistêmico na qual cada efeito se converte e se potencializa no outro.
Embora haja sérias discussões, a falta de um vínculo afetivo ou a falta de uma figura de apego, segundo alguns autores, não é possível um desenvolvimento emocional e social.
Todo aluno espera encontrar na escola um ambiente acolhedor, uma figura positiva e que seu sucesso venha através de algum esforço, para que seja realmente válido. A criança com NEE tem dificuldade em conviver com críticas, são vítimas de suas próprias expectativas, precisam ser valorizados e ouvidos, compartilhando uma visão positiva do ser humano e de suas habilidades.
A instituição tem que incluir, sustentar, acompanhar, apoiar, enriquecer e oferecer tudo o que essa pessoa necessita em sua singularidade para ter êxito no objetivo educativo de integrar.
Na sociedade atual onde predomina a competição e o egoísmo, valores que tornam mais difícil a aceitação de quem tem dificuldade, e até de quem não têm o fator da empatia e o de colocar-se no lugar do outro, são fundamentais para o fortalecimento da auto-estima do aluno.
A primeira coisa que deve ser trabalhada no sujeito com NEE é a aceitação de sua própria imagem. Ninguém é feliz se não for admirado e respeitado.
Visto por este ângulo, tanto os alunos incluídos com NEE e os demais, devem sentir-se acolhidos e importantes no processo, a fim destes se tornarem participantes trabalhando como uma equipe em busca de um objetivo.
Essa busca pela inclusão de todos é uma luta contínua, onde os que estão sendo incluídos devem sentir-se integrados e os demais não têm que sentirem-se excluídos e devem ser “olhados” da mesma forma.
3. DESTACAR POTENCIALIDADES FRENTE ÀS DIFICULDADES
O significado de potencial que consta nos dicionários4 nos diz que é tornar potente; reforçar; possível; disponibilidade, possibilidade; virtualidade.
Considerando essa afirmação, nada é mais significativo tanto para portadores de NEE ou não, que sejam destacados pelo seu potencial e não pelas dificuldades que enfrentam. Fazer predominar suas qualidades, sejam elas quais forem, torna o processo educativo válido para esses educandos.
A inclusão na prática não precisa somente ser entendida e aceita por todos, mas valorizada em sua diversidade.
Não bastam espaços físicos adequados, currículo adaptado, professores bem preparados, equipe multidisciplinar, se não forem respeitados em suas ‘potencialidades’. Tanto os NEE com comprometimento físico ou cognitivo precisam de um atendimento que destaque aquilo que trazem de melhor.
Relato de experiências com NEE incluídos nos certifica que todos têm algo de especial, como vivem o tempo todo tentando provar aos outros de suas capacidades, demonstram uma preocupação com resultados que contribuam para sua aceitação no grupo.
Mas como essas pessoas fazem para destacarem-se no grupo? Segundo MALLUF(2007)5: A inclusão é um processo em que o principal objetivo é encontrar as melhores situações para que cada aluno se desenvolva dentro de suas potencialidades.
Podemos concluir que o pleno desenvolvimento ou não das potencialidades que caracterizam o ser humano vai depender da qualidade das relações sociais desse meio no qual está inserido.
A escola para a maioria dos alunos com NEE é às vezes a única atividade social que ele participa principalmente os que se incluem nas classes mais baixas, e é neste lugar que ele precisa ser envolvido nesse ambiente de tal maneira que se sinta integrante e não apenas um ser incluído numa escola e atendido com qualidade.
A escola inclusiva é aquela que é para todos, implica num sistema que reconheça e atenda as individualidades, respeite as necessidades de cada um, e de qualquer um, mesmo daqueles que não apresentam nenhum tipo de limitação.
Muitos desses alunos enfrentam dificuldades de locomoção, alimentação e atendimento médico, esperam muito tempo para serem atendidos ou realizar exames.
Alunos com NEE com comprometimento físico, geralmente são os mais prejudicados, pois precisam mostrar que ter um problema físico não significa que tenha um atraso cognitivo ou vice-versa.
Ouvimos um relato de uma colega educadora certa vez, que gostaria de desenvolver mais trabalhos de artes como recortes ou colagens com seus alunos, mas tinha receio de provocar um mal-estar em seu aluno que tinha paralisia nos braços. Realmente, muitas vezes nos deparamos com este tipo de indagação.
Como proporcionar atividades que todos participem? Inclusive os alunos com dificuldades físicas ou cognitivas?
O ideal, já que falamos em inclusão é mobilizar todos os colegas, para um trabalho em equipe.
Não que os colegas realizem o trabalho por eles, mas que os orientem de maneira que estes encontrem o melhor jeito de o fazerem.
Todo sujeito tem um dom, há aqueles que não se saem muito bem nas tarefas que exigem mais coordenação motora, mas têm muita facilidade nas atividades de raciocínio, e outros o contrário.
Nós, professores, pecamos muitas vezes em não tentar, pelo menos, desafios, menosprezando a capacidade de nossos alunos ditos “normais ‘‘, quiçá com os NEE”!
Com certeza, estes esperam ser desafiados, para nos mostrar seu potencial, suas capacidades e quem sabe nos surpreender com os resultados.
Na realidade, todos nós precisamos provar a nós mesmos do que somos capazes, mesmo inconscientemente, o fazemos, é tão inata ao ser-humano essa busca pelo reconhecimento, que se torna natural, uma vez que cada um traz uma genética própria, temos habilidades complexas, atitudes tão pessoais, que resultam em um conjunto de ações que determinam do que realmente somos capazes.
Que possamos ser seres potenciais, sejamos anormais, mas sejamos humanos no sentido de solidários!
4. INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO?
Confunde-se inclusão com integração, um aluno inserido numa classe regular que não interage com os demais colegas, está somente integrado em uma escola que se diz inclusiva, mas, que não proporciona condições para a melhoria da educação em geral.
Há uma ilusão a respeito da inclusão. A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. O acesso de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular é admitido àqueles que:
(…) possuem condições de acompanhar as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais. (MEC, 1994: p.19)
Inclusão e integração têm significados parecidos, filosofias diferentes, mas, objetivo semelhante.
Uma verdadeira inclusão exige rupturas em seu sistema e envolvem todos os excluídos, a integração pede concessões e seleciona somente indivíduos excluídos aptos.
Segundo SASSAKI:
“Inclusão social é o processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma sociedade para todos”.
(Sassaki, 1999, p. 167).
A inclusão beneficia todas as pessoas e não só as com deficiência, porque a verdadeira inclusão é para todos e não só para os excluídos que provarem estar aptos.
Entende-se que a escola precisa re-significar suas funções políticas, sociais e pedagógicas, adequando seus espaços físicos, melhorando as condições materiais de trabalho de todos os que nela atuam, aprimorando suas ações para garantir a aprendizagem, buscando atender as necessidades de qualquer educando, sem discriminação. As equipes devem trabalhar interdisciplinarmente, o espaço deve ser adequado (para que crianças portadoras de paralisia cerebral ou qualquer outra delimitação que necessite de cadeira de rodas, possam se locomover com autonomia), que os tempos de elaboração e apropriação dos conteúdos sejam diferenciados e que as modalidades de assimilação de aprendizagem tenham compassos diferentes.
Todos envolvidos no processo educativo necessitam da mesma atenção, alguns precisam de um olhar mais atento, mas não mais importante do que os demais.
4.1 RESISTÊNCIAS EM RELAÇÃO À INCLUSÃO
Tudo aquilo que soa como novidade é um processo lento e sofrido, mas não quer dizer, que seu resultado não será positivo.
Ao analisarmos as resistências, deve-se examiná-las a partir da argumentação daqueles que resistem.
Ex: Quando um professor diz:- “Não quero esse aluno na minha sala”! ’’, podemos interpretar sua recusa como má vontade, recusa medo, negação em
Colaborar… Ou como o desejo de contribuir para o sucesso da aprendizagem do aluno, para o qual se sente desqualificado.
Como vimos, não necessariamente, está se esquivando de enfrentar um desafio, apenas, poderá estar em dúvida quanto a sua capacidade de conduzir um processo educativo que exija mais embasamento e preparação.
Porque muitas vezes, precisamos construir o caminho por nós mesmos, não há um setor de apoio na escola, geralmente em escola públicas, nem mesmo o SOE (Serviço de Orientação e Supervisão) existe de fato, o que ocorre são funcionários que dividem a carga horária entre duas ou três escolas, ficando pouco tempo em cada uma delas.
Nem sempre a recusa caracteriza-se por negação, mas por uma série de fatores que acabam gerando uma expectativa prejudicial tanto no professor que receberá o aluno, como na família. A família, às vezes, espera encontrar naquela escola ou naquele profissional, o que sempre buscou. Alguém que atenda a demanda e que corresponda às expectativas tanto do aluno incluído, quanto as suas próprias.
Portanto, como dito anteriormente, antes das reflexões, é preciso ouvir os argumentos das partes envolvidas. Nem sempre a boa vontade é suficiente, ela é na verdade o primeiro passo, mas não atenderá todas as necessidades se não houver um aprimoramento e um conhecimento mínimo das dificuldades que serão enfrentadas, e das potencialidades que poderão e deverão ser exploradas.
Conforme dados da pesquisa feita com professores da rede pública do município de Viamão, que será anexada posteriormente através de gráfico dos resultados, grande parte dos profissionais, mesmo alguns, tendo freqüentado cursos de atualização, sentem-se amedrontados em receber alunos com NEE. Sentem-se despreparados, mas conscientes que não poderão negar-se de atendê-los, pois, como funcionários estariam desrespeitando uma legislação que ampara todos os sujeitos que apresentam NEE.
Não que isso seja uma desculpa para a resistência, mas funciona como imposição de um papel que nem todos estão preparados para exercer.
A inclusão de alunos com necessidades especiais tornou-se para alguns educadores um problema para a escola, que antes não tinha, porque antes eles estavam fora do ambiente escolar, passaram a ser visíveis, evidenciando não a inclusão, mas a passagem de um estado de negação para um estado de problematização.
Esse é um desafio que todos os professores devem se propor a enfrentar: o de considerar que a homogeneidade é ilusória, e que estas crianças deverão ser demandadas a partir do estágio em que se encontram sem que se funda o mito de que ‘’são todos iguais’’.
5. PESQUISA: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES ATUAIS DAS ESCOLAS REGULARES PÚBLICAS DE VIAMÃO/RS FRENTE O DESAFIO DA INCLUSÃO
Tendo como base tudo o que já foram expostos, os pontos ressaltados na pesquisa a seguir, são dados coletados em pesquisa feita em escolas regulares da rede pública do município de Viamão/RS, procurou-se além de conhecer a realidade das escolas, ouvirem a opinião dos participantes desse processo, professores e equipe diretiva, conhecerem as reais condições que estas oferecem aos alunos inclusos e qual suporte a mantenedora (SME do município) oferece em termos pedagógicos.
Temos a consciência das dificuldades de se fazer uma educação inclusiva de qualidade e que ofereça condições a todos os envolvidos. Tanto corpo docente quanto discente e pais, recursos pedagógicos e infra-estrutura adequada para receber de maneira satisfatória esses alunos que buscam participar de um processo que por direito também é deles, de forma efetiva, sistemática e com objetivos definidos.
5.1 METODOLOGIA
Durante os meses de setembro a novembro de 2009, realizou-se uma pesquisa qualitativa com aplicação de questionários e realização de observação com educadores e equipe diretiva de escolas da rede pública do município de Viamão/RS, com o intuito de constatar como ocorre efetivamente a inclusão de alunos com NEEs, como os professores estão sendo capacitados, como estes se sentem frente ao novo desafio e quais os recursos pedagógicos e físicos as escolas dispõem.
Foram distribuídas questionários entre alguns professores da rede estadual e municipal de Viamão. Muitos questionários não foram devolvidos, então, utilizamos além da observação de momentos em aula de alunos com NEE, e-mails que mandamos para algumas escolas. Assim como as entrevistas, alguns e-mails foram retornados outros não.
As respostas dos questionários serão comentadas nas reflexões sobre os resultados obtidos.
5.2 ANÁLISES DOS DADOS COLETADOS
Para que haja um melhor entendimento, achamos por bem apresentar os resultados da pesquisa em eixos, onde cada um deles trata de um foco em relação à temática apresentada.
O primeiro eixo da pesquisa denominou ‘’Escolas Inclusivas’’ trata das escolas que já vêem realizando a inclusão de alunos com NEEs nos últimos três anos. Nessa parte da pesquisa investigamos quantas escolas da rede já têm em seu quadro discente alunos com NEEs? Há quanto tempo essas escolas realizam esse trabalho? Como se sentem até o momento em relação ao processo de inclusão?
O segundo eixo da pesquisa denominado ‘’Suporte pedagógico’’, focamos como é o currículo nessas escolas? Como funciona a avaliação para os alunos NEEs? Que tipo de capacitação é oferecido aos educadores?
O terceiro eixo da pesquisa denominado ‘’Desafio de Educar’’ foca primeiramente a opinião dos professores sobre a situação atual da inclusão nas escolas. Qual a reação ao saberem que terá em sua turma um aluno com NEE? Qual apoio os educadores buscam quando tem alguma dificuldade? Como se sentem no papel de incluírem os alunos com NEEs?
5.2.1 EIXO 1: CONHECENDO A REALIDADE DAS ESCOLAS INCLUSIVAS DO MUNICÍPIO
Nesse primeiro eixo da pesquisa constatamos que das 104 escolas públicas do município, no qual são 73 municipais e 31 estaduais, apenas 20% das escolas não possuem alunos com NEEs, onde podemos destacar que se incluem nestas, as escolas de zona rural, indígenas e técnicas que por possuírem um número reduzido de alunos e situarem-se em lugares mais afastados não tem se registros de alunos incluídos.
Tendo como base as 88 escolas públicas do município que já participam do processo de inclusão, através do gráfico dois, podemos constatar que 25% das escolas inclusivas já fazem esse trabalho a pelo menos cinco anos, quando praticamente iniciou-se esse processo de adequação no município. Do mesmo modo 75% dessas escolas iniciaram a inclusão de alunos com NEEs a partir do ano de 2004. O que demonstra o crescimento da inclusão no município de forma considerável e efetiva.
No gráfico quatro chamamos a atenção a um fator tão importante e amplamente citado neste artigo. A importância de termos um currículo adaptado às necessidades dos alunos incluídos, que obedeçam a critérios onde estes, possam participar efetivamente do processo sem sentirem-se privilegiados ou prejudicados.
É imprescindível que se faça uma adequação dos planos de estudo anuais determinados para cada ano ou série, traçando objetivos e adequando a metodologia às capacidades reais de cada indivíduo incluso.
Como podemos observar no gráfico cinco a avaliação em 80% das escolas inclusivas possuem uma avaliação diferenciada, de acordo com as condições que cada aluno com NEEs possui. Os outros 20% admitem que possuem uma única avaliação, mas, que são respeitados os limites de cada um.
Para que a escola faça um trabalho de avaliação justo e eficaz, ela precisa adotar critérios de avaliação que levem em conta as individualidades e que não comparem o desenvolvimento de aluno especial com padrões pré-estabelecidos, mas apenas com seu próprio desempenho, pois cada progresso é mais uma vitória numa batalha que se iniciou no momento do nascimento, que para uma criança com NEE inserir-se num mundo cheio de desafios é como enfrentar um inimigo todos os dias, esse inimigo pode estar vestido de indiferença, de preconceito, de desconhecimento e tantas outras roupagens que fazem dele um desafio a serem vencidos todos os dias. No que se refere à avaliação, Vasconcellos (2003)6 faz o seguinte alerta: mudar o paradigma da avaliação não significa ficar em dúvida se “devo reprovar ou dar uma ’empurradinha’”, qualquer uma dessas posturas é cruelmente excludente, pois é preciso descobrir as condições de aprendizagem de cada aluno e, além disso, “não parar para atender ao aluno e suas necessidades é um autêntico suicídio pedagógico” (p. 54, 58, 77).
No entanto, o atendimento desses alunos em classe comum pode representar sua exclusão sempre que a avaliação, uma entre as variáveis que interferem no seu processo de escolarização, não for usada para promover a aprendizagem e partir das condições próprias de cada aluno (Hoffman, 2005).
Durante os meses de abril a setembro de 2008, a Prefeitura Municipal de Viamão juntamente com a PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e MEC (Ministério da Educação e Cultura), ofereceu a 100 professores da rede municipal, um curso de 120 horas/aula, as sextas à noite e sábados pela manhã, sobre Transtornos Evasivos do Desenvolvimento, do qual eu participei. Nesse curso, foram trabalhados assuntos como, processos neurológicos do conhecimento, síndromes, autismo, hiperatividade, estimulação precoce e também esclarecimento de dúvidas dos professores que possuíam alunos com NEE em sua turma.
Dos 100 professores da rede, cerca de 70 concluíram o curso. Algumas escolas não tiveram representantes, ou professores multiplicadores. Avalio o curso enquanto educadora como uma iniciativa válida de se dar um suporte aos educadores, mas como tudo o que é bom, poderia ter continuidade,
Aprofundamento, já que trata de um assunto amplamente discutido e cheio de amarras e questionamentos.
Temos a consciência que não existe uma receita de como fazer, mas, iniciativas como essa, são de extrema importância, pois abriu um leque de possibilidades, antes tão limitado, principalmente para mim, que paralelo a isso, freqüentava o curso de especialização em Psicopedagogia.
O gráfico seis foi feito com base no número total de escolas da rede estadual e municipal de Viamão, que somam o total de 104 escolas.
No gráfico sete a estatística foi feita sobre a quantidade de respostas positivas do gráfico seis.
5.2.3 EIXO 3: O DESAFIO DOS EDUCADORES FRENTE À INCLUSÃO
Segundo a pesquisa, 59% dos professores já são conscientes da possibilidade de terem inserido em sua classe, alunos com algum tipo de necessidade especial, seja ela orgânica ou permanente, foi o que também foi relatado nos questionários. Existe um amparo legal para a inclusão, e existem professores que se preocupam em fazer com que essa lei seja cumprida, e para isso, sabem da importância de aliar afetividade, conhecimento e comprometimento para que ocorra de verdade.
Dentre os entrevistados, existem cerca de 32% que sentem a inclusão como um desafio. Assim como é para o educando é também para o profissional que o recebe, pois, terá que dar conta de incluir esse sujeito, sem também excluir os demais. Dividir o foco de atenção e planejar-se de forma flexível para que contemple as duas ou três demandas de aprendizagem.
É claro que tudo o que é imposto, gera certa resistência, assim como falamos várias vezes, cada um tem sua particularidade. E cerca de 8% dos profissionais, demonstram alguma forma de resistência em atender uma turma multiforme. Também são conscientes da legislação e sabem que se determinado, terão de fazê-lo, mas enquanto não acontece, tentam de alguma forma esquivar-se desse novo desafio.
Tendo como base os gráficos nove e dez, cabe observarmos que a maior queixa por parte dos educadores é a falta de um assessoramento pedagógico que de conta de responder algumas dúvidas, encaminhar alguns casos especiais, ou até mesmo, trocar atividades ou idéias úteis à prática diária.
Dentre esses, 68% dizem buscar apoio, freqüentando cursos, assistindo palestras, adquirindo obras sobre os temas, pesquisando… A fim, de conhecer seu aluno especial na totalidade. O senso comum nos pinta uma realidade sobre certos problemas que nos bitolam, por isso, causa tanto temor. Quando se pesquisa, procuramos conhecer a fundo as características de cada caso, as informações nos dão segurança, não que isso vá responder a todas as perguntas, mas, poderá nos preparar para iniciar o processo de ensinar e aprender, mais organizado e norteando os caminhos a seguir.
6. CONSIDERAÇÕES GERAIS COM CITAÇÕES
“Temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferiorize; e temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize.”
Boaventura Souza Santod, 2005.
Desde que o termo inclusão de pessoas com Necessidades Educativas Especiais, tornou-se tão presente em nossa prática enquanto educadores há uma extensa bibliografia referente ao assunto, mas em nenhum deles, encontremos todas as respostas.
É preciso que se procure primeiro, entender que inclusão não é apenas acesso à educação. Mas um processo onde um indivíduo com NEE, que culturalmente não faria parte deste meio encontre condições reais de desenvolvimento. Um dos grandes erros da nossa educação está na supervalorização das habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas e consequentemente uma falta de conhecimento das diferentes áreas de altas habilidades.
Se um indivíduo não consegue aprender matemática, é taxado de incapaz, mesmo sendo ótimo aprendiz em outra área.
Uma escola que se preocupe realmente em incluir deve primar pelo desenvolvimento global do indivíduo com dificuldades na aprendizagem, desenvolvendo um trabalho que estimule a solidariedade e o espírito de equipe.
Incluir de maneira efetiva significa proporcionar estratégias que contemplem todos os envolvidos no processo, alunos ditos ‘’normais’’ e com NEE, a fim de que todos tenham espaço para o desenvolvimento de suas habilidades, dentro de suas limitações.
Desde a proclamação da Declaração da Salamanca (1994), que constituiu uma mudança nos paradigmas da Escola Integrativa para Escola Inclusiva, vem se tentando uma lenta caminhada, com muitos obstáculos, entre eles: o preconceito, a falta de recursos, a falta de preparação docente, falta de adequação dos currículos, erros conceituais, supervalorização da desvantagem…
A idéia de que simplesmente é um direito incluir um aluno com NEE, na escola regular, não significa que este estará incluído. Ser matriculado é apenas o primeiro passo, a seguir virão outros que dependerão tanto do indivíduo com NEE, como dos profissionais envolvidos e os colegas.
Incluir sem excluir, no processo ensino aprendizagem, significa contemplar a todos, sem excluir de nenhuma forma os elementos do processo.
Ter um aluno com NEE, em uma classe com 30 crianças dita “normais’, não significa que esta está incluída, ela pode estar meramente ‘‘inserida” ou integrada’’.
Que este artigo sirva para que pensemos em um futuro onde a inclusão seja tão natural, quanto é à entrada de todo cidadão em idade escolar, independente de suas limitações, raça, religião e nacionalidade.
Vivemos em um país onde se criam leis para tudo. Mas uma lei não tem o poder de acolher uma criança, de nada adiantarão as leis se não houver pessoas que se disponham a acolher as diferenças.
Esse enfrentamento com a realidade, com as dificuldades será difícil, desafiadora e diria até, de certa forma, desconfortável. Cabe a nós decidirmos qual posição tomar. Seja de meros expectadores ou de cidadãos conscientes e humanizados a ponto de estender a mão e compreender que ninguém está imune e que o mundo foi feito para todos.
3 COLL, César. Marchesi, Álvaro, Palácios, Jesús. (2004). Desenvolvimento Psicológico e Educação: Transtornos do desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed.
4 Dicionários : Aurélio de Língua portuguesa, Cegalla, Domingos Paschoal.
5 MALLUF, Maria. (2007). Inclusão escolar e Psicopedagogia. 3º Congresso internacional sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão escolar. Realizado em Salvador, Bahia de 04 a 06 de maio de 2007. Disponível em: http://www.segmento-ba.com.br/eventos/ arquivos. Acesso em 25 set.2008.
6 Maiores informações consultar: VASCONCELOS, Celso dos Santos – Avaliação da Aprendizagem – Práticas de Mudanças: Por uma Práxis Transformadora, 7.ª edição, Libertad, São Paulo,2005.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Rosita Edler. (2005). Educação Inclusiva: Com os pingos nos ‘is’. 3ª ed. Porto Alegre, RS: Mediação.
COLL, César. Marchesi, Álvaro, Palácios, Jesús. (2004). Desenvolvimento Psicológico e Educação:Transtornos do desenvolvimento e necessidades
educativas especiais.2ª ed.Porto Alegre, RS: Artmed.
HOFFMANN, Jussara – Avaliar para Promover: As Setas do Caminho- Mediação, Porto Alegre, 2005.
HOFFMANN, Jussara – O Jogo do Contrário em Avaliação- Mediação, Porto Alegre, 2005.
MALLUF, Maria. (2007). Inclusão escolar e Psicopedagogia. 3º Congresso internacional sobre dificuldades de aprendizagem e inclusão escolar. Realizado em Salvador, Bahia de 04 a 06 de maio de 2007. Disponível em: http://www.segmento-ba.com.br/eventos/ arquivos. Acesso em 25 set.2008
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica – Referencial sobre avaliação da aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais . Secretaria Municipal de Educação – São Paulo : SME / DOT, 2007.112p. : il.
STOBAUS, Claus Dieter, MOSQUERA, Juan José. (2004). Educação Especial: em direção à educação inclusiva. 2ª ed. Porto Alegre, RS: Edipucrs.
UNESCO. – Declaração de Montreal. Organização Mundial de Saúde, 2004.
______. – Declaração de Salamanca e Linhas de Ação para satisfazer Necessidades Educativas Especiais. Salamanca, Espanha, 1994.
VASCONCELOS, Celso dos Santos – Avaliação da Aprendizagem – Práticas de Mudanças: Por uma Práxis Transformadora, 7.ª edição, Libertad, São Paulo, 2005.
* Pedagog – Habilitada em Educação Infantil , Professora da rede municipal e estadual na cidade de Viamão/RS e Pós-Graduanda em Psicopedagogia Institucional pela Cesuca –Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha
Fonte: Revista O Professor

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