Além de uma participação restrita no mercado de trabalho, quando consideradas todas as formas de ocupação (inclusive as informais e precárias), os trabalhadores com deficiência também se deparam com um nível de rendimento médio mais baixo em relação aos demais.
Vinicius Gaspar Garcia*

Abaixo-assinado contra a redução de cotas para pessoas com deficiência; Participe e divulgue!
Análise dos primeiros resultados do Censo IBGE sobre pessoas com deficiência
Falta humanização das empresas na aplicação da lei de cotas
Análise dos primeiros resultados do Censo IBGE sobre pessoas com deficiência
Falta humanização das empresas na aplicação da lei de cotas
Mas qual é a situação, em termos de rendimentos, daqueles que conseguem trabalhar? Assim como ocorre para os demais trabalhadores, aqueles que estão no mercado formal auferem remuneração média superior àquela do contingente informal. Mas é interessante observar que, se pelos dados RAIS, que captam só o mercado formal, as pessoas com deficiência recebem no mesmo patamar ou até um pouco mais do que os demais trabalhadores, existem grandes disparidades nas informações de rendimento disponíveis no Censo Demográfico, colocando as pessoas com deficiência numa posição desfavorável.
No conjunto, sobressai dos dados da RAIS que o rendimento médio dos vínculos exercidos por pessoas com deficiência, de R$ 1.741, é 6,2% maior do que a média observada para os postos de trabalho ocupados pelos trabalhadores sem deficiência, que é R$ 1.638. Essa constatação, num primeiro momento, sugere que aqueles (poucos) trabalhadores com deficiência que conseguem ingressar no mercado formal o fazendo em condições favoráveis, pelo menos em termos da remuneração obtida.
A tabela abaixo apresenta o rendimento médio total e segundo posição na ocupação dos trabalhadores (ocupados) com e sem deficiência, a partir dos dados do Censo de 2010.
Tabela – Rendimento médio do trabalho principal segundo posição na ocupação e condição de deficiência– Brasil 2010.

Como os dados do Censo consideram também formas de ocupação mais precárias e fora do mercado formal – como o ocupado por conta-própria e o ocupado sem carteira assinada – é evidente que o rendimento médio total, para ambas as populações, será inferior aquele observado na RAIS. De fato, para os ocupados com deficiência o rendimento médio é de R$ 852; para os demais trabalhadores, sem deficiência declarada, de R$ 1.245.
O que chama atenção é a diferença significativa entre eles, já que o rendimento médio dos ocupados com deficiência é 32% menor do que dos trabalhadores sem deficiência. Tal resultado decorre de uma situação duplamente desfavorável para os ocupados com deficiência, pois: a) eles estão proporcionalmente mais concentrados nas posições precárias de ocupação (49,3% são trabalhadores por conta própria ou não têm carteira de trabalho assinada; percentual que é de 40,1% para os ocupados sem deficiência); b) nas mesmas posições da ocupação, os trabalhadores com deficiência recebem, em média, menos que os demais (por exemplo: dentre aqueles com carteira assinada, o rendimento médio dos ocupados com deficiência é de R$ 1.077; e de R$ 1.263 para os demais).
Portanto, além de uma participação restrita no mercado de trabalho, quando consideradas todas as formas de ocupação (inclusive as informais e precárias), os trabalhadores com deficiência também se deparam com um nível de rendimento médio mais baixo em relação aos demais. Trata-se de mais um indicador a ser levado em conta nas discussões que envolvem a inserção deste segmento populacional no mundo do trabalho.
OBS.: agradeço ao colega e professor do Instituto de Economia da Unicamp, Dr. Alexandre Gori Maia, pela obtenção dos dados na base do Censo de 2010.
* – Pesquisador – Faculdades de Campinas –Facamp. Conselho Consultivo – CVI-Campinas. Diretor de Relações Institucionais do CVI-Brasil
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